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O universo das bruxas ainda é um campo desconhecido e um tanto incompreendido. Porém, é muito explorado de forma indireta pelas pessoas, como o uso de chás para obter a cura de doenças, simpatias e a crença em energias. Também dentro da cultura pop é abordado em dezenas de produções entre filmes, séries e livros, que criaram estereótipos do que é ser bruxa. Mesmo com a grande quantidade de conteúdo produzido sobre a temática, há uma evidente lacuna na tentativa de normalização do tema, que compete com anos da criação de uma cultura que marginaliza a feitiçaria na sociedade.

Brooks Alexander | scp-inc.org
Segundo os autores Jeffrey B. Russell e Brooks Alexander, historiador e jornalista, referências na documentação da história das bruxas com o livro “História da Bruxaria” (1980 e 2007), as bruxas se dividem em três vertentes: o neopaganismo, wicca e bruxaria. O neopaganismo é o mais abrangente de todos, pois concentra diversas tradições antigas de sistemas religiosos como o escandinavo, o celta, o grego, o romano e o egípcio, revivendo doutrinas apagadas pela história, ensinos ocultos e desprezados ao redor do globo. Isso explica o prefixo "neo", que indica um destaque da manifestação contemporânea em conexão com o antigo.

Jeffrey B. Russell | ivpress.com
A categoria wicca é a mais radical, pelo simples fato de exigir de seus adeptos o desempenho rigoroso de ensinos e práticas. O nome foi criado pelo escritor inglês Gerald Brousseau Gardner, que nos anos de 1950 ligou a prática de feitiçaria com a palavra. Existem distinções sutis entre wicca e bruxaria, por esse motivo alguns preferem escolher um termo e mantê-lo, sem ligação com outro. A designação "bruxaria" é a mais conhecida entre os não-praticantes, além de ser o termo mais recriminado pelos leigos, que, geralmente, atribuem à nomenclatura características macabras e negativas, o que justifica a preferência de alguns pelo termo wicca.

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A bruxaria é uma cosmovisão. Cosmovisão engloba as noções de como vemos e entendemos tudo que está ao nosso redor e de como isso se ajusta ou se relaciona com o seu universo no que diz respeito ao entendimento do propósito da vida, de onde viemos e para onde vamos. Ela possui três principais cosmovisões: naturalista, ocultista e humanista.
A cosmovisão naturalista é uma corrente filosófica que defende que toda realidade se relaciona e opera de acordo com certas "leis", independentemente de uma divindade. O fato de se reconhecer a existência de deuses e deusas não quer dizer que se deve atribuir a essas divindades a faculdade de criar e interferir na vida natural dos seres humanos.
A cosmovisão ocultista é um conjunto de crenças e práticas caracterizadas por dois pontos principais, ambos usualmente desconhecidos dos leigos. Primeiro, o ocultismo ensina que existe uma força ou energia em cada um de nós que pode ser manipulada em nosso favor. O feitiço é um dos modos utilizados para aproveitar e focalizar esse poder. Segundo, o ocultismo afirma que os seres humanos são divinos. A prática das artes ocultas é, portanto, um constante empenho em efetivar a própria divindade do adepto.
Cosmovisão humanista define a si própria como uma celebração da vida. E essa celebração consiste na negação de que exista qualquer problema com a raça humana e coloca o ser humano como o centro de tudo. Não existe nada acima dele, o ser humano é perfeito.
A bruxaria é pragmática, ou seja, exige a prática constante de rituais e, nesse praticar, a bruxa encontra o próprio bem-estar e daqueles que vivem ao seu redor. Uma simples busca por materiais que tratem sobre bruxaria revelará como a grande parte das obras abordam rituais e atividades que podem ser aperfeiçoados com o objetivo de controlar uma suposta força cósmica em prol do que o praticante deseja.

Bruxas e suas tradições
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Bruxas são aquelas que conhecem o poder que possuem e a sua divindade na natureza. Elas são diversas, cada uma com suas preferências na forma de manifestar sua crença. Dentro da Bruxaria existem diferentes vertentes, como a bruxa hereditária, que é aquela que vem de uma família de bruxas, a verde, que baseia seus rituais no contato com a natureza, a solitária, que não pertence a um grupo nem tradição, a eclética, que se baseia em muitas tradições, e de adivinhação, que usa do seu poder para prever o futuro. Esses são apenas alguns exemplos das muitas vertentes que existem ao redor do mundo.
Na maioria dos casos, cada vertente possui um coletivo de bruxas que é denominado como “coven”. Ao participarem de um coven, junto com suas irmãs pela bruxaria, realizam rituais e congregam entre si, algo como a missa de domingo para um grupo de beatas na igreja católica. Não somente para isto, o coven também cumpre seu papel de criar o sentimento de irmandade quando cada uma toma para si o dever de zelar pela outra, principalmente contra intolerantes que as perseguem há centenas de anos. Exemplo disso é o maior massacre às bruxas conhecido pela história: a inquisição.
Iniciado no século XV, a caça às bruxas, fomentada pela igreja católica, teve seu ápice no continente europeu. A perseguição era baseada na demonização de mulheres que supostamente praticavam algum tipo de ritual ou se mostravam contra as opressões machistas da época. Estima-se que no período entre os séculos 15 e século 18 tenham sido executadas aproximadamente 100 mil mulheres por bruxaria.

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Estavam no topo da lista de execução as curandeiras, em sua maioria viúvas que cultivavam ervas e prestavam serviços de saúde em suas aldeias. Elas eram perseguidas pois acreditava-se que recebiam auxílio de entidades sobrenaturais e obtiam o poder em troca da adoração ao diabo.
Mesmo após enfrentar as duras barreiras do tempo, as práticas da bruxaria permanecem vivas, desde reuniões de clãs, até atividades que passam despercebidas no dia a dia. Prova da sobrevivência das práticas na atualidade são as histórias de Daiane, Betânia e Alice. Bruxas dos nossos dias que mantêm as tradições das mulheres do passado.


Daiane Lopes, 38 anos, designer de interiores e
artista de Suzano - São Paulo, Bruxa Eclética.
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Daiane se considera eclética em todas as áreas da vida. Procura sempre estar fazendo coisas diferentes, que nem se atreve a escolher uma delas. Praticar a bruxaria não é algo muito convencional. Só essa caraterística já a colocaria à frente dos que dizem gostar de diversificar suas atividades seculares.
A história da designer na bruxaria vem de muito antes do seu nascimento. Descendente de uma família com uma forte base na magia, teve uma mãe bruxa que seguia os dogmas da igreja católica. Mesmo sendo em parte hereditária, teve sua iniciação tardia.
Passou grande parte da vida sem praticar nada, porque não aceitava nenhuma religião e nem um deus masculino. Mesmo incentivada pela família, nunca se identificou com a igreja católica. Possuía uma aversão, sem saber o porquê, apenas sabia que era diferente. Acabou se tornando ateia e tentava entender a vida de uma forma mais física, mas sentiu que não era o suficiente. Até que, ao procurar saber mais da existência do ser humano no universo, entrou de cabeça nos estudos sobre o sagrado feminino, a história feminina em si, e, quando percebeu, estava novamente despertando a magia dentro dela.
Daiane tem como maior reflexão a maneira que encara a trajetória da vida. Ela acredita que todos, independentemente se bruxos ou não, podem buscar a iluminação. É algo para todos. Entretanto, em sua percepção, existem níveis de pessoas, e que algumas têm que passar por várias vidas para aprender e no final de suas reencarnações começa o processo de iluminação.


Betânia Caroline, 24 anos, taróloga de Avaré - São Paulo, Bruxa Solitária.
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Seu interesse pela bruxaria brotou na infância e começou com a astrologia. Porém, a criação rigidamente católica a impediu de progredir. O que a fez reavivar esta chama foi o interesse em livros, filmes, ou qualquer coisa relacionada ao universo das bruxas. Hoje, tem como principais áreas de estudo a magia herbal, as artes divinatórias (métodos de compreensão da vida, como a adivinhação) e tem a tarologia como profissão.
Betânia opta por identificar-se como bruxa solitária, já que não pertence e nem pretende fazer parte de um coven e também não segue uma tradição específica. Aprendeu a tarologia com uma mestra na arte, complementando seus conhecimentos com os livros.
Seu trabalho é apenas com Tarot, mas se dedica também aos estudos da magia das ervas. Pretende exercer, mas ainda não atende nesta área, pois não se sente pronta. “Acho que é muito delicado esse tipo de coisa”. Hoje, apenas faz para si e seu parceiro.
Betânia é agradecida pelo apoio que recebe de seu marido. “Acho que não estaria hoje onde estou sem ele”. De uma família muito religiosa, precisou mudar de estado para poder viver a sua crença livremente. Ela não esconde suas práticas de ninguém, mas sua mãe não tem conhecimento do seu novo estilo de vida. O esposo não tem relação com a bruxaria, mas é um estudioso da Cabala, filosofia e espiritualidade indiana.


Alice M. Franco, 58 anos, enfermeira de São Thomé das Letras – Minas Gerais, Bruxa Verde.
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Alice, como prefere ser chamada, iniciou a jornada na bruxaria na infância. Teve avós que eram adeptas da cura com ervas e também da manipulação de oráculos. Aos 42 anos cresceu nela um desejo de fazer um curso de Terapia Holística, que promove o equilíbrio físico, psíquico, espiritual e social por meio de estímulos naturais, algo que a permitiria trabalhar longe das exatidões científicas, que é o que vivenciava com a enfermagem.
Foi então que encontrou na cidade de Santo André a Universidade Livre Holística Casa de Bruxa, que possuía o curso de terapeuta. Entretanto, por coincidência (ou não), ao invés de terem realizado sua matrícula no curso de terapia, haviam na verdade a matriculado no curso de bruxaria natural. “É por que era pra ser”.
Segundo a enfermeira, a bruxaria natural é uma filosofia de vida, não uma religião. Foi isso que a atraiu tanto.
Quem colocou essas vertentes foram os gregos, egípcios e até o Gardner que reavivou a Wicca enquanto religião. Dentro da bruxaria natural você pode encontrar a bruxaria verde e a bruxaria solitária. Se eu fosse me colocar em uma vertente, eu me colocaria como uma bruxa verde.
A relação com um coven muitas vezes pode ser umas das coisas mais importantes na vida de uma bruxa. Alice é alguém que aprendeu muito com as irmãs da bruxaria natural. Desde que se mudou para Minas Gerais não participa de covens, pois eles são em sua maioria wiccanos. Quando morava em São Paulo tinha mais afinidade, pois eram da bruxaria natural. Todavia guarda consigo a maioria dos rituais que aprendeu com o coven que a iniciou.
Mais do que ter um chamado, toda bruxa precisa ter um feitiço na ponta da varinha e uma boa poção dentro do caldeirão. Essas características podem soar apenas como estereótipos, todavia, com as nossas personagens não é tão diferente, pois cada uma tem o seu ritual favorito.

Rituais
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Após olhar para dentro de si e suas práticas, Daiane não acredita se encaixar em uma tradição. Mergulha em algumas vertentes e tem grande apreço pela bruxaria natural. Pratica rituais como o de plantar a lua, valorização uterina e até rituais que ela mesmo desenvolveu. “O sagrado feminino (poder dentro da mulher) ajuda a entender o conhecimento ancestral. Os rituais do sagrado feminino são muito fortes para uma religação espiritual”. Que tal conhecermos os seus rituais favoritos?
O que seria “Plantar a lua?”

O ato de plantar a lua está ligado com o sangue menstrual. Quando sua lua (sangue) desce, a bruxa se resguarda, usa panos para recolher seu sangue e o joga nas plantas. O resguardar exige que não se faça nada por três dias durante o sangramento. Deve passar o período sozinha, meditando, tomando chás, lendo, escutando mantras e deitada. Nem se pode trabalhar.
Ao fim do período menstrual, coloca os panos em água quente e os deixa lá de molho até que soltem todo o sangue e o fluido esfrie. Então coloca-se mais água, dilui e despeja o líquido nas plantas dos vasos de sua casa. Enquanto rega, deve-se agradecer à grande mãe, que é a natureza, pelo sangue, devolvendo a ela em demonstração de sua gratidão. O horário não interfere no ritual, entretanto, a bruxa costuma fazê-lo durante o dia.
Tudo tem que ser ritualístico, desde lavar os panos, enquanto mantém em seus pensamentos aquilo que deseja para o novo ciclo que se inicia, até jogar nas plantinhas com a mente ligada na maneira como aquele sangue servirá de nutrientes para elas.
Além deste, Daiane desenvolveu rituais próprios baseados nos estudos que realizou. Neste você vai precisar de uma lua cheia. Ele se chama “Cura das Ancestrais”.

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Cura das Ancestrais

A cura das ancestrais é um ritual simples. Prepara-se um lugar à luz do luar com incenso, água para beber e pedras. Particularmente, a bruxa gosta de escutar músicas para a deusa e meditar, o que segundo ela intenciona o poder de cura da lua. Após a meditação, deve-se abrir as pernas para intencionar o poder do satélite natural entrando em seu útero e promovendo a cura. Ao finalizar, toma-se a água para se hidratar após ter absorvido a energia da lua. Ela diz que todas as vezes que fez, se sentiu mais poderosa.
Porém, quem seriam as ancestrais e por que precisam ser curadas?
As ancestrais são as avós e bisavós. As mulheres carregam no útero todos os traumas das ancestrais, como uma memória genética. Segundo ela, às vezes, as mulheres têm traumas que nem se sabe o porquê, e que pode ser originado de um trauma da mãe ou da avó. Sendo assim, é necessário promover a cura para os frutos de um passado infernal que a humanidade as deixou.

As deusas xamânicas

No segundo ritual, Daiane fala sobre escutar músicas que falem das deusas xamânicas. Existem diversas deusas as quais uma bruxa pode rogar em seu favor. Pachamama (deusa Inca da fertilidade), Diana (deusa grega da luta), Ártemis (deusa romana da luta), Lilith (deusa mesopotâmica da morte), as deusas africanas Iansa (deusa da morte) e Yemanja (deusa dos mares), e no catolicismo tem-se Maria. “Não cultuo várias deusas, mas tem bruxas que cultuam. Eu apenas cultuo a mãe natureza e seus elementares”.

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No caso de Betânia, os seus rituais estão ligados ao seu trabalho, a leitura de Tarot. São eles a limpeza pós atendimento e rituais para a prosperidade todo primeiro dia do mês. O que conheceremos é a limpeza astral da parte de sua casa onde recebe seus clientes.
Quais são os passos do ritual de limpeza dos ambientes?

Segundo a bruxa, para fazer a limpeza dos ambientes, deve-se escolher uma pedra baseada no seu gosto, ela tem preferência pela ônix negra e uma erva específica para acendê-la como incenso natural caseiro. Ela geralmente utiliza manjericão. Fecha-se as janelas e portas e começa-se do cômodo mais longe para o mais perto da rua. Passa-se com a erva circulando nos quatro cantos de cada cômodo. Durante a purificação deve ser declamada uma oração ou uma canção de banimento.
Um dos objetos místicos mais procurados pelos não praticantes, porém, crentes na bruxaria, são as pedras. Betânia tem paixão por elas e explica um pouco sobre o poder de suas preferidas.
O que seriam essas pedras como a Ônix negra?
Ônix negra é um cristal de cura, assim como muitos que existem: são exemplos as turmalinas e quartzos. Cada um tem suas respectivas funções. A bruxa os usa geralmente com uma função específica. Se vai a um lugar hostil, que pode sugar sua energia, bote uma onix negra ou turmalina dentro do bolso. Caso precise encontrar-se com pessoas e sabe que precisará ter paciência e zelo para conversar, usa-se o quartzo rosa. Particularmente, a ametista a ajuda na hora dos atendimentos. Porém, para terem os resultados esperados, os cristais precisam ser limpos e energizados, cada qual a sua maneira.

Como fazer a limpeza dos cristais e onde você consegue encontrá-los?

Os cristais de uma bruxa devem ser lavados em água corrente e alguns precisam ficar à luz do sol, outros à luz da lua. Podem também ser enterrados da noite para o dia. Eles podem ser encontrados em lojas esotéricas, mas Betânia prefere comprar em joalherias, porque lá ela os encontra na fase bruta, em forma de drusa (pedra irregular), às vezes até com a terra de onde foi tirada.

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Chegamos na vez de Alice. Como bruxa verde, o ritual que mais a fascina é o de lunação. Dentro da bruxaria natural existem 13 luas, a cada lua cheia deve ser realizado um ritual chamado Lunação. Todas as trezes luas possuem um nome. Lua do coelho, lua do lobo, lua do gelo, são exemplos dados por ela, mas possuem vários outros nomes, pois cada pessoa pode escolher como deseja chamá-las e outras que simplesmente não nomeiam.
Cada ritual tem uma temática e deve ser escolhido algo a melhorar dentro de si, algo a refletir naquela lua. Uma experiência pessoal do passado da enfermeira foi a reflexão de como ela se relacionava com as pessoas. Todavia, se temos 12 meses no ano, como teremos 13 luas? O cliclo lunar tem 28 dias, o que dá treze meses, diferente do calendário gregoriano. No entanto, deve-se ficar atento a um detalhe importante: Se você esquecer de fazer uma lua, deve começar o ciclo desde o início.
Como é realizado o ritual lunar?

O ritual lunar é chamado por algumas tradições de Esbats, que significa "comemorar". Ele é realizado a cada lua cheia e pode ser comemorado 12 horas antes até 12 horas depois do ápice da lua. Ao total são 13 Esbats, pois conta-se o mês baseado no calendário lunar. A lua representa a Deusa-Mãe, e o sol o Deus-Pai. Após o término das comemorações das 13 luas, volta-se à primeira para iniciar o novo ciclo, assim sucessivamente até o fim da vida. Como já citado, se ocorre a perda de uma comemoração, deve-se recomeçar, isto é, voltar à primeira lunação.
A bruxa nos contou sobre a primeira lunação, aquela que chama de "Lua do Lobo". Vale ressaltar que a bruxa disse não poder revelar todos os detalhes dos rituais.
O que é trabalhado nesta lunação?

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Neste ritual, antes de começar, deverá ser tomado um banho higiênico. Ao iniciar, traça-se o círculo mágico com o athame (uma faca de dois gumes. Ela não é usada para cortar nada físico. É simplesmente para cortar energias negativas e traçar círculos mágicos e de proteção), varinha ou com o dedo. Enquanto traça-se o círculo, deve-se invocar a presença de seus mentores protetores e os Elementais Guardiões da Natureza (guardiões do mundo natural relacionados com os quatro elementos: água, terra, fogo e ar). É importante lembrar que tanto na bruxaria natural quanto na Wicca a interação com a natureza é a base de tudo. Depois deverá ser acesas velas da cor desta lunação seguindo um ritual próprio para isto. No caldeirão que está no centro do círculo, estará o banho de ervas, para banhar-se após a sua consagração.
Dentro do círculo é permitido usar roupas com a cor da lunação ou nua (vestida de céu), roupas leves que possam permitir que as energias da terra fluam livremente por você, por isso alguns preferem ficar vestidos de céu. Dentro do círculo está liberado cantar, dançar, conversar, meditar e pedir soluções para questões pessoais, proteção para si e da família. O banho será consagrado e o alimento da lunação será consumido e poderá beber vinho. Depois de comemorar e refletir, encerra-se o ritual agradecendo a presença dos mentores e elementos guardiões, desfazendo o círculo. Após, um banho higiênico deverá ser tomado antes de dormir.

Assim se encerra o ritual de lunação, o Esbats.

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Outro ritual que Alice casualmente realiza são as festas de mudança de estação, como o equinócio e solstício, que representam o nascimento, crescimento e morte do deus e da deusa. Ambos os criadores de tudo, os quais em um mundo ideal, não machista, representam o deus pai e mãe, e não apenas um deus masculino. Essa festa pode ser celebrada tanto dentro de um coven de até treze pessoas, que representam as 13 luas, como solitariamente. Alice raras vezes faz acompanhada.
Como é realizado o ritual de mudança de estação?

São oito os rituais de mudança de estação. Os que saúdam o início de uma estação e os que se despedem dela. Estes rituais são chamados de Sabbaths e representam os ciclos durante o ano. A bruxa escolheu falar sobre o mais famoso: Samhaim.
Os sabbaths metaforicamente falam do Deus, da Deusa e de seu amor. Samhain é comemorado no pico do outono, por isto, comemora-se este sabbat usando a "roda do norte" (hemisfério norte). Soa estranho para quem está no Brasil, já que outono no país não é em outubro e sim em março (roda do sul). Entretanto, há pessoas que seguem a roda do hemisfério norte e, por isto, temos o Samhain (mesmo dia que o Halloween) comemorado em 31 de outubro. Samhain é um ritual onde se agradece a colheita que proverá no inverno que se aproxima e é também o momento de expurgar tudo o que não se quer presente em sua vida.
Samhain pode ser considerado o ano novo das bruxas. Na simbologia, esta comemoração fala da morte do Deus, o fim da colheita. Embora ela tenha morrido, a Deusa está grávida e esta criança nascerá no Yule, que é a estação do renascimento do Deus, que acontece na primavera. É bom lembrar que o halloween não tem ligação com o Samhain. Ela é somente uma festa iniciada pelos não adeptos. Samhain é um período para honrar o passado que foi vivido e os ancestrais.
A abertura do ritual é igual a lunação, honrar a morte, que faz parte da vida. É realizado o feitiço chamado de "corda da bruxa" em que são feitos os pedidos para o ano novo que se inicia e que será queimada a corda do ano que passou. São usados dois caldeirões. O primeiro a ser aceso é o que deve ser utilizado para banir o que não deseja para sua vida e outro que deve ser aceso depois do banimento para atrair o que deseja. Neste momento, já estarão acesas as velas pretas para banir, as laranjas para atrair os ancestrais e a branca para honrar a ancestralidade.
O ritual tem como principal intuito comemorar ancestralidade, meditar sobre os seus erros e utilizar-se de oráculos para observar as influências energéticas do que está por vir. Pode-se dançar, meditar e cantar o que vier no seu coração. Principalmente lembrar de todos que você ama e que se foram.

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São alguns dos símbolos deste ritual:
Animais

Animais desta celebração: aranha, símbolo da teia da vida; coruja, símbolo da sapiência e paciência; gato preto, símbolo daquele que adentra em si, e busca sua espiritualidade; morcego, símbolo da clarividência pois não precisa de seus olhos físicos para ver e sapo, símbolo da sabedoria feminina.
Objetos:
Cajado, sabedoria e desligamento das coisas mundanas; caldeirão, o útero da terra onde fecundamos os nossos desejos, onde se faz o alimento e o remédio; chapéu, pontiagudo símbolo de hierarquia espiritual; a varinha, que direciona energias; a vela, que guia as energias para onde devem ir; e a vassoura, que serve para varrer as energias ruins.

Cores:

Laranja, a vitalidade para co-criar, preto, simboliza proteção e mestria; roxo, simboliza elevação cósmica e equilíbrio das forças.
Alimentos:
Os alimentos são basicamente maçã, bolo, torta de abóbora (representa a colheita farta), pode ter chá, champanhe ou vinho, frutas como amora, ameixa, cereja, vermelhas em geral.

Complementos:

Incensos de maçã, menta, nós moscada e salvia. Pedras obsidiana, onix negra e turmalina.
Em questão de local, segundo a bruxa verde, deve-se dar preferência para a realização dos rituais ao ar livre.
O templo da bruxaria e wicca é a natureza. Quando estamos na natureza, nós estamos no nosso próprio altar.

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Por mais que o assunto tenha adentrado ao mainstream nos últimos anos e ganhado a aprovação do público, como a saga Harry Potter, o clássico da Disney Abracadabra e a Convenção das bruxas, ainda existem preconceitos e estigmas com a bruxaria. Daiane diz que as pessoas apenas veem uma parte do que a bruxaria é.
Olha, eu acredito que as pessoas pensam ainda que bruxaria é um caminho só de magia. O que acredito que a bruxaria não é só magia, mas iluminação também.
Betânia gostaria de se livrar dos estigmas que ligam a bruxaria ao diabo ou sua ligação com o mal. E conta também que perdeu a credibilidade com basicamente toda sua família por causa disso.
Alice vai mais a fundo e diz que a bruxaria é uma filosofia de vida e não uma religião, nem está atrelada a religiões de matriz africana, tanto que na bruxaria não há sacrifício de animais, é algo inconcebível para as bruxas. “Não se acredita na necessidade de matar um animal para ofertá-lo ou usufruir da sua energia. Claro que nós respeitamos todas as pessoas dessas vertentes que tem esse pensamento”. Outra situação apontada foi o pensamento das pessoas a respeito das bruxas utilizarem seu poder para fazer o mal, porém, em sua filosofia as pessoas somente tem poder sobre elas mesmas. É uma ligação entre mente e coração e isso todos podem alcançar. A bruxaria é conhecer a si mesmo, transformar a si mesmo, completa Alice.
A bruxa verde citou também os estigmas colocados pelos filmes, como o já citado Harry Potter.
Aprender magia não é fazer miojo, conseguir as coisas rápidas. Claro que você pode fazer uma magia, mas é mais uma concentração mental daquilo que você deseja. Na bruxaria, nós trabalhamos com os quatro elementos. Cada um vai determinar um sentimento que você possa adquirir ou precisa melhorar. O fogo é a coragem, força, foco e fé. Água é o equilíbrio das emoções. Nós não transformamos galhos de árvores em cobra, é mais dentro de você. Essa é a grande beleza da bruxaria. Ela traz a liberdade de você ser o que você é.
Alice relembra também como em tempos passados colocavam muitos estigmas sobre as mulheres e como elas escondiam sua mágica para manter-se em segurança.
Antigamente usavam-se muitos códigos nos livros para que não soubessem o real significado dos ingredientes e se escondia ervas nos fios da vassoura. Para mim, precisa tirar os estigmas da bruxaria em relação ao mal. O mal que a igreja católica embutiu nas mulheres que foram sacrificadas e ainda continuam sendo apenas por serem diferentes.
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Todas as nossas personagens passaram por uma transição até entenderem qual era o seu chamado, mas o que mudou na vida delas após a iniciação na bruxaria?
Daiane diz que vivia em um mundo que nada dava certo, em que faltava algo, vivia numa busca por algo que não sabia o que era, junto a uma instabilidade emocional. Depois de sua iniciação, é como se tivesse acordado para o entendimento da vida.
A psique muda, você vê o mundo diferente, sente mais plena, e consequentemente as coisas que eram tão difíceis começam a florescer. A vida fica bem mais colorida.
Segundo a experiência de Betânia, quando frequentava o meio cristão, sempre tinha uma dúvida, discordava e acreditava em nada. A bruxaria a colocou em conexão com sua própria fé. Lhe trouxe liberdade e autonomia.
Te abre a mente por não existir questões de culpa, preconceito e etc. E é mais condizente com minhas convicções políticas também. Mas acho que o principal mesmo é você sentir-se parte e ter contato com a natureza e com sua ancestralidade.
“Nós não somos seres estáticos, nós somos dinâmicos, eu posso dizer que a minha mudança é diária”. Alice relata se sentir mais empoderada e menos ansiosa por agora entender que existem coisas que estão fora do seu alcance. Ela traz como exemplo os rituais para você chegar a um objetivo. Ela apenas relaciona os materiais que vai usar, agradece e entrega ao universo. “Esse é o feitiço da bruxaria. O que tiver que ser, vai ser”.
Outro ponto que mudou foi o grande respeito pelos animais e plantas. E esse respeito cresceu tanto, a ponto de ela dizer entender algumas atitudes deles, como se pudessem se comunicar, ambos seres iguais que fazem parte de um todo.
Essa é uma constatação bonita de você perceber, que está em tudo e tudo está em você. Você olha uma planta, e ela está na terra. E a terra também está em você, nos seus ossos, nos minérios na sua língua. Na cachoeira, a água dentro do seu sangue. No sol encontra o calor e o ar está nos seus pulmões. Pequenas e grandes constatações que vão mudando o seu olhar sobre as coisas, um olhar mais profundo sobre o propósito de vida, o mundo e as pessoas.
As três bruxas têm experiências pessoais, perspectivas e vivem em contextos diferentes. Seja na forma como veem o mundo, as vertentes que estão inseridas ou seus diferentes rituais. Todavia, ambas lutam para manter viva essa parte da história das mulheres que tentaram apagar da trajetória da humanidade.