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Allan Kardec
A linha que separa o mundo carnal do espiritual claramente tem suas partes mais tênues e as quase impossíveis de penetrar. E aqueles que conseguem acessar têm suas tarefas a desenvolver. É por meio dos médiuns, conforme Allan Kardec no Livro dos Médiuns, que os habitantes do plano espiritual conseguem se manifestar. O escritor ainda afirma que todos somos médiuns, mas apenas os que possuem uma mediunidade aflorada conseguem se comunicar ostensivamente com os espíritos. Alguns espíritos que se comunicam, habitam entre nós. Boa parte por apego excessivo à matéria. Outros por tarefas a serem realizadas aqui, para o progresso (ou não) da humanidade.
Aos espíritos que por aqui estão, muitas vezes se torna incontrolável o desejo de se comunicar conosco, seja de forma amigável ou aterrorizante. Hoje vamos falar especificamente sobre um tema dentro do estudo do espiritismo denominado obsessão. De acordo com o espiritismo, existem dois tipos básicos de eventos relacionados à ação dos espíritos obsessivos: o houting (assombração), que se caracteriza pela criatura desencarnada que se aproveita do ectoplasma (substância vaporosa oriunda da exteriorização da energia espiritual) acumulado em locais aleatórios para se manifestar; e o poltergeist (espírito barulhento), uma entidade que se utiliza da energia fornecida por um indivíduo encarnado (os vivos) para agir.
Houting, em linhas gerais, seriam espíritos materialistas que ficariam apegados a um determinado local, poderiam ser identificados por sons que surgem do nada, objetos que se movem sem causa aparente e mesmo a aparição de figuras humanas ou monstruosas se encaixam nas suas manifestações mais recorrentes. O poltergeist por outro lado, causaria efeitos mais devastadores para os mortais, como agressões e ataques sem motivos aparentes. E essas atitudes estariam enraizadas na obsessão do espírito por alguém ou algo.
Segundo, Julis Orácio Felipe, advogado, espirita e pesquisador das manifestações dentro do espiritismo, para que um espírito se comunique ou seja percebido há sempre a necessidade de um médium.
Mesmo nas comunicações tidas por diretas, o espírito retira de um médium próximo a sua possibilidade de comunicação, extraindo o que se chama de ectoplasma, um fluido, para alcançar seu intento, mas somente o faz se houver permissão para tanto e tal permissão sempre tem um propósito. Nestes casos, espíritos ainda muito apegados às coisas da matéria e pouco desenvolvidos moralmente buscam acessar outros para lhes atrapalhar no dia a dia. Às vezes por vingança, às vezes por inveja, enfim, sentimentos menos nobres, causando algum desgaste.
De acordo com Allan Kardec, em documentos disponibilizados pela Federação Espírita Brasileira, a obsessão caracteriza-se pelo “[…] domínio que alguns Espíritos exercem sobre certas pessoas. É praticada unicamente por espíritos inferiores, que procuram dominar […].” E, por sua vez, está relacionada a três fatores básicos que facilitam que o espírito a domine: a falta moral ou comportamento social, como vícios; grave desarmonia mental/psíquica, ou seja, distúrbios mentais; e lesões físicas relacionadas ao raciocínio, à cognição, à emoção e etc.
A obsessão é considerada fator primário quando a pessoa sofre ação direta de um perseguidor espiritual. Em se tratando da prática mediúnica, Kardec apresenta alguns sinais mais evidentes do processo obsessivo, aplicados tanto ao médium que trabalha com psicofonia (quando o espírito se comunica com a voz do médium), psicografia (escrita de textos ditados por espíritos), vidência (possibilidade mediúnica de ver espíritos), e etc. Ou como em qualquer outro trabalhador da reunião mediúnica (quando pessoas buscam se comunicar com espíritos). “Todavia, como regra geral a mediunidade é uma possibilidade amorosa de intercâmbio espiritual, quando bem conduzida. Se mal conduzida, certamente levará a fenômenos que não são agradáveis. É preciso estudo, preparo e trabalho no bem”, destaca Julis.
Da parte do médium, quando no rumo de alguma obsessão persistente, algumas características surgem: impossibilidade de reconhecer a falsidade e falta de sentido nas comunicações que recebe; tendência a se afastar das pessoas que possam dar-lhe conselhos úteis; reações negativas às críticas das comunicações que recebe.
Da parte do espírito: a persistência em se comunicar, queira ou não o médium, pela escrita, pela audição, pela tiptologia como ruídos, pancadas e batidas; constrangimento físico qualquer, que domine a vontade do médium e o force a agir ou falar contra a própria vontade; perturbações persistentes ao redor do médium, dos quais ele é a causa ou o objeto visado.

Foto: Teksomolika em freepik.com
Mesmo com tantas explicações, ainda ficam dúvidas que assolam todos com a mediunidade aflorada sobre os espíritos que os acompanham por toda a vida. Quem são eles e o que querem?
Podemos citar exemplos da cultura pop como “Ghostbusters”, onde vimos espíritos possuindo pessoas e ocupando locais, e em “Ghost”, quando o personagem principal, mesmo após a morte, continua neste plano e tenta se comunicar com sua amada. Há filmes também muito didáticos a respeito da mediunidade, como as cinebiografias, “Divaldo – O Mensageiro da Paz”, “As mães de Chico”, “Kardec”, o longa “Nosso Lar” e a biografia de Chico Xavier. Neste texto conheceremos dois personagens, que assim como os fictícios e reais citados, têm experiências sobrenaturais que marcaram suas vidas.

Ana (nome fictício), de 43 anos, aparentemente tem uma vida normal. Trabalha como vendedora, tem um relacionamento estável e três filhas. No entanto, possui um mal que a assola: É constantemente atormentada por espíritos. Mas, para entender um pouco mais de sua história, precisamos voltar no tempo.
Foto: Jcomp em freepik.com

1983: “[...] a persistência em se comunicar, queira ou não o médium [...]”
A pequena Ana vivia doente, imunidade baixa, qualquer ventinho a deixava de cama. Aos 7 anos de idade já havia se consultado com diversos médicos e nenhum sabia explicar por que ela adoecia tão facilmente, mesmo com tantos medicamentos. Sua mãe e avó já tinham tentado de tudo que a medicina alternativa prometia oferecer. E nada adiantava.
Por ser uma criança encantadora –como muitos costumavam dizer sobre sua beleza-, foi convidada para ser dama de honra do casamento de sua tia. Naquele dia, usava um vestido azul esmeralda com lindos bordados na barra e mangas bufantes, como era de costume na época. Seu cabelo formava lindas ondas, que brilhavam ao contato com a luz. Apesar disso, a sua feição estava abatida, seu corpo nunca esteve tão magro e seus olhos haviam perdido o brilho, como se a vida estivesse esvaindo de seu corpo. A cerimônia aconteceu e a menininha cumpriu o seu papel de entregar a aliança aos recém casados. Ainda assim faltava uma última tarefa, a foto com os noivos.
A foto foi tirada, e caso você não faça parte da geração Z, sabe que nos anos de 1980 as fotos iam para um estúdio a fim de serem reveladas. Quando o tão esperado álbum de fotos do casamento chegou, a família inteira ser reuniu a fim de conferir quem estava apresentável nas fotografias. Em meio as risadas e suspiros, uma captura chocou a todos. A foto em que Ana estava, havia uma pessoa que não era um dos convidados, muito menos estava lá, no momento da festa. “A foto que foi tirada, apareceu um rosto atrás de mim. Um rosto de uma mulher de idade”.

Foto: stockvault
A senhora misteriosa tinha os cabelos brancos e tons acinzentados, o rosto com profundas marcas de expressão ocasionadas pelo tempo, e tinha o cenho franzido como se estivesse com raiva ou desgostosa. Aborrecida.
A sua mãe rapidamente retirou a foto e guardou em seu quarto. Nunca mais Ana viu a tal fotografia. “Essa foto, infelizmente, não sei se ainda existe, pois, a minha mãe não gosta que toque nesse assunto”. Mesmo sem falar sobre isso e tentar esquecer, esta não foi a última vez que a menina recebeu a visita daquela senhora.
No decorrer de sua vida, passou por várias experiências como esta. Vamos avançando.

1996: [...] pela escrita, pela audição, pela tiptologia como ruídos, como pancadas e batidas [...]
A vida até que era bem pacata em Itumbiara, cidade da divisa do estado de Goiás com Minas Gerais. Ana, agora mais velha, lavava a louça do jantar na área externa de casa. Como era de costume, seu radinho estava sintonizado na estação evangélica da região. Quando um dos seus louvores favoritos começou a tocar, ela se aproximou do aparelho para aumentar o volume. Foi aí que uma voz, rouca e metálica, em meio as interferências das ondas, proferiu palavras que diziam - Não adianta se esquivar, eu estarei sempre onde você estiver. Naquele momento o corpo de Ana enrijeceu, seus lábios tornaram-se secos e suas mãos suavam. Sua reação foi se aproximar mais do rádio e puxar o fio da tomada. No mesmo instante a voz grunhiu um som de revolta e um mal cheiro, como de um animal morto há dias, exalou por todo o ambiente.
Porém, ela já havia sido avisada. Desta vez, o espírito utilizou o rádio, mas já tentara anteriormente se comunicar com ela por meio de outros objetos. “Pelo rádio que eu me lembro, foi a única vez. Das outras vezes, foram em aparições em fotos, até em reflexo no espelho”.
Nas fotos, a nossa personagem principal recorda de terem acontecido pelo menos três vezes. Algo que marca sua memória é a imagem de um homem velho, com os olhos negros e profundos atrás dos seus ombros.
No espelho, relata que em um dia, enquanto se arrumava para um passeio, resolveu passar um pouco de maquiagem. Quando pegou seus produtos nas mãos e virou-se para olhar no espelho, estava lá, a figura de um homem atrás dela. Ana girou rapidamente para encará-lo, entretanto, ele havia sumido. Ela conta que a figura da senhora, sim, aquela de anos atrás, também já se manifestou por meio do espelho.
Esses seres que aparecem tem uma energia muito pesada. Quando os sinto, fico com a respiração ofegante e minhas mãos transpiram. Muito. E consigo sentir algo chegando perto de mim. Geralmente, o lugar do corpo onde eu sinto essa sensação, fica todo arrepiado.
O que fica no ar é, será que ela é a única a passar por isso, ou pode ser algo de família. Algo que vem de suas antepassadas. A pergunta surge porque suas filhas também já vivenciaram situações como estas. Vire a página.

2014: [...] constrangimento físico qualquer, que domine a vontade do médium e o force a agir ou falar contra a própria vontade [...]
Segundo palavras de Ana, os espíritos a perseguem e querem atingir todos que estão a sua volta. Em relato, suas filhas também foram atormentadas por vultos em fotos e até possessões. Vamos adentrar mais uma vez em suas memórias.
No início daquela noite, Gabriela (nome fictício), sua filha do meio, chegou em casa após um passeio com os amigos. A menina tinha a pele morena, cabelos escuros como a de uma índia, e os olhos negros e grandes como de uma jabuticaba. Ana notou que ela estava diferente, até sua voz soava estranha. Sua feição também fugia do habitual. Os colegas de sua filha comentaram com ela que Gabriela se comportara de forma estranha durante toda a tarde.
Quando se aproximou de sua filha sentiu uma forte presença sobrenatural, o que poderia explicar aquela mudança de comportamento. Ana, muito religiosa que era, começou a rezar imediatamente. Com a reza fervorosa, o intruso começou a manifestar-se dizendo uma frase já ouvida anteriormente por ela: Eu estou nesta casa e nunca sairei de perto de você. Mais do que depressa, a vendedora correu rapidamente até a cozinha e pegou o saleiro sobre a mesa, foi até onde sua filha estava e jogou o sal em volta dela, pois, segundo ela, o produto repreenderia o espírito maligno.

Foto: Camila Quintero Franco em unsplash.com
Como não surtiu o resultado esperado, pediu que sua filha mais velha fosse buscar por ajuda. Sabia que sozinha, não conseguiria.
Ela foi atrás da sogra dela e a trouxe para cá rapidamente. Nós fomos para o quarto com a minha filha. Ela estava toda torta e mãos parecendo garras de um animal. Fizemos um círculo em volta dela e começamos a rezar incansavelmente.
Após duas horas rezando, aparentemente o espírito havia sido expulso. “Rezamos Pai nosso, Ave Maria e o credo”. No dia seguinte a menina foi levada a um centro espírita. Hoje ela está com 20 anos e nunca mais teve experiências sobrenaturais como esta.
Por mais que Ana vivencie diversas manifestações durante sua vida, houve uma experiência que deixou além de sequelas psicológicas, mas também, cicatrizes físicas.

2017: [...] perturbações persistentes ao redor do médium, dos quais ele é a causa ou o objeto visado [...]
Dentro desta linha do tempo, o que aconteceu aqui está guardado na parte da memória que armazenamos as coisas que gostaríamos de esquecer.
O rancho da família é um lugar que Ana sempre gostou de visitar, ar puro e cheiro de grama molhada. Pela manhã, como de costume, ia até a cozinha que ficava em uma área aberta do lado de fora da casa. Quando foi descer o único degrau que separava do piso inferior, sentiu algo a empurrar com muita força.
Seu corpo estremeceu com o contato ao chão de pedra. Uma dor inebriante tomou seu rosto, peito e joelhos. Sentiu o gosto do sangue que saía do seu nariz. Esse era o fim de semana que estava sozinha no local, ligou para suas filhas que prontamente foram acudi-la. Nesta queda, Ana quebrou o nariz, fraturou duas costelas e ganhou grosseiras cicatrizes nos joelhos.
E esta não foi a única vez.

Foto: Montylov em unsplash.com
Ana dormia após almoço na sacada de casa. Seu namorado acordou-a para tomarem o café da tarde juntos. Ele acabou indo na frente para arrumar algumas coisas que faltavam. Quando Ana foi ao seu encontro, sentiu um empurrão e caiu de bruços no chão.
Desacordada foi levada ao hospital pelo amado. Ao acordar sentiu uma ardência nas costas, e pediu que a enfermeira as olhasse. Quando subiu a blusa, o susto. Suas costas estavam marcadas com arranhões profundos, como se garras tivessem a ferido.
Ana também acredita que muitos espíritos estão ligados aos locais que ela já viveu ou ainda vive. Continue.

A casa
Construída por ela há 24 anos, a casa onde mora sempre maximizou a força dos espíritos na tentativa de fazer contato, pelo menos é o que afirma. “Geralmente é mais forte na minha casa. Minha filha Gabriela diz que parou de ser atormentada quando saiu daqui. Ela via muitos vultos pela casa”.
Ainda falando de seus descendentes, o seu neto, de 4 anos, sempre diz ver uma senhora dentro de casa, todavia, ninguém nunca comentou perto dele sobre os acontecimentos do passado. Quando ele vai à casa de outras pessoas, por exemplo, na casa de sua bisavó, ele fala que no local não tem bichos, como ele costuma chamar os seres vistos.

Foto: Ricardo Utsumi em unsplash.com
Ana já buscou ajuda de alguns líderes religiosos. “Eu cheguei até chamar um pastor aqui. Ungiu a casa e fez uma oração. Disse que eu deveria frequentar a igreja e que tinha um espírito ruim que me acompanhava”. Contudo, ela foi apenas algumas vezes a igreja evangélica, pois gostava mesmo de frequentar a igreja católica. “Um padre já esteve aqui também. Fez purificação com água benta. Ele era da igreja que eu frequentava”.
O ano dessas visitas foi 2009. E pelo que vimos, muitas coisas aconteceram depois disso. O que nos leva a pensar que a ligação que Ana têm com os espíritos é muito mais forte e segundo os relatos a seguir, pode vir de muito antes dela nascer.

Razões
Ana liga o acontecimento do rádio ao centro espírita que ficava ao lado da casa da sua ex-sogra onde morou durante dois anos, quando vivenciou muitas coisas estranhas.
Eu morei dois anos em Itumbiara, Goiás. Porém, essas coisas me incomodam desde criança, mas aprendi a lidar um pouco. Geralmente, quando se tem um centro espírita perto, dá uma certa interferência mesmo. Interferência que eu falo, é um tipo de contaminação espírita.
Para Julis, nosso especialista, as comunicações mediúnicas são possíveis por conta da possibilidade do médium, não estão necessariamente associadas às proximidades de casas espíritas, já que os espíritos estão em todos os lugares. “Uma vez que o médium tem essa possibilidade mais ostensiva, o que pode fazer é educar sua mediunidade, para menos sentir seus efeitos. A melhor forma de educar-se é através do conhecimento”, acrescenta.
A vendedora já visitou um centro espírita, porém não sentiu que surtiu algum efeito contra os espíritos. Lá, disseram-na que precisava desenvolver a mediunidade que é muito forte. Porém, o que ela não esperava ouvir era o que talvez pudesse mudar toda a sua percepção do por que tem um contato muito forte com o mundo dos espíritos.

Foto: Steinar Engeland em unsplash.com
Segundo o líder da reunião daquela noite, Ana havia morrido, porém sem fazer a passagem, pois recebeu uma nova chance de voltar. Era como se uma parte dela tivesse ficado do outro lado. E essa fenda jamais se fechou. “Alguns dizem que tem um mundo igual ao nosso onde ficam aqueles que não encontraram a paz, ou que não quiseram desapegar por algum motivo”.
As palavras do líder faziam bastante sentido para ela, pois mesmo sem contar nada a eles, isso realmente havia acontecido.
Algo que lembro foi quando tive eclampsia no parto da minha filha. Eu me vi sentada na cama, colocando a mão no peito e sentindo uma dor muito forte. Tinham três pessoas perto de mim que falavam que eu não podia ficar ali. Que eu precisava voltar. Vi uma mulher segurando a minha nenê. Eu tentava segurar, mas não conseguia. Lembro que foi muito agoniante.
A mãe e a avó de Ana nunca haviam contado, pois não gostavam de tocar em certos assuntos.
Porém, o que a intrigou foi o fato de que os espíritos já a atormentavam muito antes deste fato. Foi quando revelaram a ela que eles viram a morte de um bebê. Dela quando bebê.
Com esta dúvida, Ana resolveu visitar a sua vó, e entre um assunto e outro, questionou se algo havia acontecido com ela ao nascer. Foi aí que a vó a contou a história de que 20 dias após seu nascimento, ela havia morrido e voltado à vida.
A minha bisavó era índia nascida em aldeia e ela acreditava nos espíritos. Porém, minha avó não gostava muito de tocar nesses assuntos não. A história da minha avó e bisavó também é muito longa, mas na época ela me aconselhou a me afastar dessas coisas. Porém, como vou parar se eles continuam me perseguindo o tempo todo?

Consequências

Ana diz se sentir refém. “É uma sensação muito ruim. Ruim mesmo. Minhas filhas só pararam de ser atormentadas depois que elas se mudaram. Perdi minha autoestima por causa do acidente, e também por esses motivos perdi amizades. Se afastaram de mim”.
Nossa segunda personagem é Clara (nome fictício). A jovem de 26 anos, casada e mãe de uma filha, assim como Ana, sofre com a tormenta de espíritos desde a infância. O capítulo dois desta história começa aqui.
Foto: Jcomp em freepik.com

2000: [...] impossibilidade de reconhecer a falsidade [...]
Já era tarde da noite, Clara, aos 7 anos, dormia no mesmo quarto que sua irmã na cama de baixo do beliche. Naquela madrugada, estava inquieta, não conseguia pregar os olhos. Entre uma tentativa e outra de pegar no sono, todas inúteis, sentiu vontade de ir ao banheiro. A casa em Mogi das Cruzes tinha apenas três cômodos, um quarto, cozinha e banheiro. O quarto era dividido com um guarda roupa de casal, a mãe e o padrasto dormiam de um lado, ela e sua irmã do outro. Tinha um corredor no meio que levava ao banheiro e depois vinha a cozinha que tinha 4 grandes janelas de vidro.
Enquanto caminhava pelo corredor na volta para seu quarto, escutou a voz de sua mãe a chama-la na cozinha. Estranhou sua mãe ainda estar acordada, principalmente no breu em que o cômodo se encontrava. A menina foi até a cozinha, achando que encontraria sua mãe, entretanto, ao passar na porta, viu que estava completamente sozinha.

Foto: Gryffyn M. em unsplash.com
Antes que tivesse a oportunidade de se retirar, sentiu uma presença perto de si, e então um arrepio se espalhou por todo o seu corpo. Com medo, sentiu seus músculos enrijecerem, por mais que tentasse, não conseguia emitir um som se quer, muito menos gritar por ajuda. Como foi ensinada, começou a fazer uma oração em pensamento. Em meio ao choro, com a voz embargada, conseguiu mover suas pernas para o quarto da mãe. “Foi horrível sentir aquela sensação de estar mal acompanhada”. Foi uma tarefa difícil explicar o que havia acontecido, sua mãe ficou sem entender o que a filha contara, mas deixou que ela dormisse ali aquela noite.
As perturbações não pararam por aí. O espírito tentou outras vezes se passar por alguém que a vítima amava.

2012: [...] e falta de sentido nas comunicações que recebe [...]
Quando morava na casa de sua sogra, seu marido saía, religiosamente, às 6 horas da manhã para trabalhar. Em um dia qualquer, acordou com ele a chamando. Clara, sem sair da cama, olhou para o lado e viu alguém, mas não via o rosto, apenas os olhos envolvidos nas cobertas falando seu nome pausadamente.
Ela achou que fosse brincadeira do seu marido e perguntou se ele não tinha ido trabalhar -Não foi trabalhar hoje? A sua cunhada que ouviu a pergunta, como achou que era direcionada a ela, foi até o quarto e disse que seu irmão havia ido trabalhar. Clara confusa, olhou para o lado novamente e viu que estava sozinha na cama. O que era aquilo que estava ao seu lado, falando seu nome? “Eu saí correndo do meu quarto, morrendo de medo”.
Quem seria esse espírito e por que ele tenta se passar por pessoas próximas a Clara?

Em casa, na hora de dormir
Clara conta que o momento em que sente a presença de algo com mais força é durante a noite. “Quando deito para dormir, sinto que tem alguém do meu lado falando comigo, mas não consigo ver o rosto”. Ela diz ouvi-lo bem perto de seus ouvidos, uma voz grave e calma de alguém bem velho, e é como se ele estivesse deitado ao lado dela, tão perto, que daria para ouvir a respiração caso fosse uma pessoa. “Esses dias mesmo tive impressão que tinha alguém deitado comigo. Sentia como se tivesse respirando forte perto de mim e eu não conseguia me mexer. Aí comecei a chorar”.
A jovem dona de dois gatos, acredita que os felinos conseguem sentir a presença e ver o espírito. Às vezes os pega olhando como se tivessem vendo alguém, e eles chegam até seguir algo que só eles conseguem ver.

Foto: Qusv Yang em unsplash.com
A telemarketing se mostra muito fechada para procurar por ajuda, seja ela de amigos, parentes ou espiritual. De sua família, a única pessoa que sabe pelo que ela tem passado é seu marido. “Conto só para meu marido. Uma vez falei para minha irmã, mas faz muito tempo. Éramos pequenas e ela falou que eu devia orar. Meu marido acredita. Sempre quando acontece isso, peço para que ele ore comigo”.
Por mais que a religião estivesse muito presente na sua criação, hoje ela não frequenta igrejas e nunca procurou, com base na religião, a solução para seu problema.
Eu ia as vezes pra igreja evangélica, mas tem um tempo que não vou, ia mais quando eu era pequena. Nunca pensei em procurar um centro espírita e também nunca contei para ninguém da igreja. Em nenhum momento achei que fosse necessário. Um vizinho uma vez me deu um frasquinho de óleo ungido e pediu pra eu ir à igreja, mas quase não tenho tempo, trabalho a semana inteira.

Consequências
Por conta das várias invasões do espírito em sua intimidade, Clara não gosta de ficar sozinha em casa, pois sente que está acompanhada por uma visita indesejada. Quando morava em Mauá, São Paulo, um vizinho a contou que tinha visto alguém de preto subindo pra sua casa e disse que não ouviu o barulho do portão quando o vulto entrou.
Tenho muita dificuldade de conseguir dormir, já aconteceu de eu estar dormindo e escutar um monte de gente falando, mas eu não consigo abrir o olho ou me virar, quando isso acontece fico presa sem poder me mexer ou falar. Tenho muitas olheiras porque não durmo bem.
Julius destaca que a mediunidade requer estudo e conhecimento do fenômeno para ser bem acomodada. O fim da possibilidade mediúnica é entender sobre a verdadeira vida no plano espiritual. Quanto mais se avança e aprofunda-se em seus estudos e engaja-se na prática do bem, maior o entendimento, melhor o domínio até o ponto de as sensações não atormentarem e sim auxiliarem no desenvolvimento das pessoas.
O mundo dos espíritos tanto dos encarnados (vivos) e desencarnados (mortos) são cheios de situações incompreendidas e inexploradas, muitas delas consideradas improváveis de serem reais por fugirem do que é naturalmente comprovado cientificamente. Dessa forma, dividiu-se opiniões e criou-se socialmente estigmas sobre a temática. O caminho para se desatar dos nós da ignorância sobre a existência de espíritos é mergulhar fundo nos estudos divulgados em busca da interpretação particular para tirar as próprias conclusões.